Juventude e juventudes
por João Francisco da Costa
Para (não) concluir
As relações que se estabelecem nas sociedades e nos grupos aos quais convivemos, mostram que a cada etapa, a cada ano de nossas vidas, pensamos diferentes, entendemos fatos de forma diferente a cada dia. As vezes, aquilo que não concordávamos ou não aceitávamos, acabam por se mostrar de forma muito peculiar e, mudamos nossas reflexões, nossas concepções, nossas forças de pensar e ver os/as outros/as 0Hoje, lidamos com uma lógica diferenciada, com um complexo de conceitos que até poucas décadas, nossos pais e mães seriam capazes de conceber, quanto mais, nossos avós. Vimos, ao longo dos anos de 1950, uma profunda mudanças nas sociedades mundiais e, não seria diferente aqui, no Brasil. Nos anos de 1960, tivemos Woodstock, os Beatlles e o novo pensamento de uma juventude, um credo, uma busca pela paz, pelo amor verdadeiro e pelo direito de ver a vida com outros olhos. Nos anos de 1960, surge o Rock in Roll, temos a figura de Elvis, mudando a concepção da musicalidade, da expressão do corpo, a liberalidade feminina,profundas mudanças nos paradigmas que regiam a fase. No Brasil, a juventude se deparou com a Ditadura Militar, que bateu, violentou, expulsou a juventude, fazendo dela, uma forma peculiar de vida, dominando, destruindo sonhos..... que bom que nem todos se deixaram vencer (Paulo Freire, Fernando Henrique, Jô Soares, Milton Nascimento, Darcy Ribeiro, Gilberto Gil, Caetano Veloso, entre muitos outros)...por exemplo, a cantora, atriz, mãe e mulher, Elza Soares, teve a casa invadida pelo Dops, foi espancada, jogada à rua e fugiu para a Europa, para não ser morta com os filhos. Nos anos de 1970, a juventude se encontra consigo mesmo, surge o grupo ABBA, Bee Gess e outros fenômenos, que serão apresentados, nos “embalos de Sábado à noite’, com John Travolta. A serenidade parece querer reinar entre a população.... um espírito de dinamismo surge. Já nos anos de 1980, a América do Sul e, inclui-se o Brasil, é sacudida com o fim da ditadura, o que proporciona a juventude muitos acessos que eram restritos, há mudanças na concepção da vida, o computador começa a surgir. A visão do mundo jovem se expande, há uma “inocência” nesse primeiro processo de liberdade. Surge o POP, Michael Jackson, U2, Madonna, Ultraje a Rigor, Paralamas, Titãs, Legião Urbana e muitíssimos outros, que cantarão à esperança, ao amor, que criticarão a política, a injustiça social e econômica, mostrarão que as etnias podem se misturar, que o amor é possível e, a juventude desse período adere ao processo. São os anos de glória da juventude do Século xx. Mas, há uma transição: anos de 1990, há um choque de gerações, os novos jovens chegam à década com a perspectiva do futuro. As relações sociais parecem se quebrar: a sexualidade é tema até mesmo das propagandas de televisão, de jornais, o corpo começa a ser valorizado a níveis de morte, o Brasil é tremulado com o Impeachment de Fernando Collor, a juventude sai à rua, cara pintada, mostra seu poder, porém, o dragão das drogas inicia seu processo de grande inclusão em nossa sociedade. Os anos de 1990 trazem novas perspectivas de vida, empregos, estabilização de nossa moeda, incentivo à educação, privatizações, mas os jovens, ficam lá, quietos, em stand by, para o gran finale : os anos 2000........ Os anos de 2000, isto é, esses 09 últimos anos, parece ter sido um século, em aspectos históricos. A introdução em larga escala mundial da internet, o telefone celular, Ipod, Mp3, 4, 5, 120, Cristal Líquido, Google Earth, foram fatores determinantes a mudanças quase que diária, nos paradigmas, nas reflexões, nas concepções sobre a vida e para ela. As relações pessoais cada vez mais distantes, encaminham-se para um individualismo social crescente. Os jovens, perdidos em um mundo, onde os pais também ainda são jovens, veem-se, muitas vezes em uma crise de referência, onde a depressão é a única saída. Os transtornos bipolares, tripolares e etc, cada vez mais estão presentes em nosso cotidiano. A droga, como vilã, chega para acalentar esse processo. Dá à juventude, nem que seja momentâneamente, uma refrigeração à sua alma, que na busca de referências, de limites, na busca de experimentações, entregam-se ao « abraço do Dragão », como os ingleses se referiam ao transe do Ópio, no século XIX. A juventude do século XXI, não pode mais ser vista no singular, ela se caracteriza por sua pluralidade, por suas múltiplas formas e constituições. Juventudes são formas e processos de um juventude que aos poucos perde a referência de seu eu, perde sua identidade e, ao mesmo tempo, recria novas identidades, que para a « normalidade » da sociedade é chocante. Cada vez mais, novos denomições e grupos surgem e demosntram sua potencialidade de permanência. Os Emos trazem a novidade da emotion, da emoção, da busca pela inocência perdida, pelo amor puro, pela música ; os jovens evangélicos tentam manter-se em seus recantos, onde possam tentar levar uma vida « normal » ; Os pais jovens ( 25- 31), muitas vezes com filhos e filhas de 13 ou 14 anos, continuam em seu processo de juventude, inúmeras vezes, com as mesmas visões de seu (re) conhecimento social, tentando em desespero aplicar sua « liberalidade » sobre os filhos e filhas ; ainda, vemos uma erotização geral da juventude, incentivada pela midia, que insiste no processo da inicição sexual cada vez mais cedo, mas que na maior parte das vezes, não publica campnhas contra o avanço do HIV e da Gravidez na adolescência ; ademais, com maior liberdade, cada vez mais cedo, os homossexuais expressão sua orientação, em uma sociedade que sob muitos aspectos, ainda não concebe a questão, onde a homofobia estabelece-se em todos os cantos ; tem-se ainda, a grande preocupação atual : o crack, que chega como a gadanha da própria morte, ceifando o rico, o pobre, o remediado, o jovem, a criança, o idoso e, há poucos dias, o prefeito de um município do Estado de São Paulo. E, para não concluir, pensemos, como e em quais juventudes vivemos hoje ? De que formas conduziremos orientaremos nossos filhos e filhas para que convivam nesse grande grupo, que é o mundo ? Como atuaremos em todas essas e, em muitas outras problemáticas, como a miséria, a fome, as guerras civis, a polícia corrupta ?
Juventude ou Juventudes ? E agora ?