Relatório Pesquisa 2005
Relatório de Trabalho de Campo – Pesquisa Socioantropológica 2005
João Francisco da Costah
Resumo: O presente relatório tem por finalidade, apresentar as impressões e entendimentos sobre a pesquisa sócioantropológica realizada junto às diversas comunidades do Bairro Guajuviras, que formam o arcabouço discente de nossa escola. Com o objetivo central de nós, educadores e educandos, analisarmos a realidade de nossos educandos e educandas, assim como, de suas famílias, cotidiano, relações humanidade – natureza, ambiente, culturas, entre outros fatores, buscou-se construir este, que de forma alguma é completo ou findado. Tal relatório faz parte de um gigantesco mundo de impressões e dúvidas, que nos levará ao questionamento e (re) pensamento de nossa condição docente, baseado no ideal da construção de um mundo mais justo e verdadeiro.
Palavras – Chave: Pesquisa socioantropológica - Realidade – Visão e transformação de mundo.
1. A Pesquisa
Nesse anos de 2005, o grupo pedagógico da Escola Estadual de Ensino Médio Cônego José Leão Hartmann, propôs, a nós, educadores e educadoras desse estabelecimento, que realizássemos uma pesquisa de cunho Social e, ao mesmo tempo, antropológica, a qual unindo etimologicamente as palavras, sócioantropológica.
Outrora, a Escola já dera o pontapé inicial em tal pesquisa, todavia, eu ainda não fazia parte do quadro docente da mesma, não tendo então, participado da mesma, quando de sua realização primeira.
Tal pesquisa, que carrega um caráter qualitativo, busca, sobretudo, colocar-nos frente à realidade cotidiana de nossas educandas e educandos, com a finalidade principal, de quebrarmos alguns de nossos conceitos e mentalidade de mundo, que, por vezes, cristalizadas em nossas vidas um tanto (senão muito) alienadas, nos faz crer, que o mundo parece igual a todos.
2. A Pesquisa e o pesquisador
A pesquisa qualitativa ou estudo de caso é uma forma interessante de realizar um (RE) conhecimento daquilo que se busca, fugindo principalmente, daquele questionário, horas vagos horas inconveniente, tão utilizado nas pesquisa que visam a quantidade.
O estudo de caso possibilita àquele que i empreende, a uma maior compreensão e entendimento da entrevista que realizará. Esse tipo de instrumento possibilita, ainda, ao entrevistador participar ativamente da pesquisa, porém, não a alterando; além disso, dá ao entrevistado ou à entrevistada, uma maior abertura às suas respostas, conforme coloca Triviños:
Podemos entender por entrevista semi estruturada, em geral àquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, frutos de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa. (TRIVIÑOS. 1987 , p. 146)
2.1 O pesquisador
1.ª Análise
O Primeiro encontro
Confesso que realmente surpreendi-me da comunicação, de que iríamos a campo, para a realização da pesquisa. A princípio, imaginei as possibilidades e probabilidades, de deparar-me com um mundo tão desigual, em um bairro que trás os mais diversificados aspectos sociais, assim como, as mais variadas diferenças de classe.
Após a organização do material necessário, escolheu-se que o feito seria em duplas de docentes, sendo oferecido aos educandos e educandas a oportunidade destes e destas acompanhar-nos à realização da pesquisa.
Formei dupla com a educadora Bernadete Catarina, a qual, devo esclarecer, admiro profundamente, por sua naturalidade e serenidade, além é claro de seus conhecimentos e discernimentos.
Em nossa primeira ida a campo, escolhemos a casa de uma de nossas alunas de 8.ª série, que reside à Vila São Miguel, a qual, a família tem uma história em nossa escola, pois seus irmãos e irmãs, com mais e menos idade que a educanda, estudaram e estudam no estabelecimento.
A educanda mora em uma casa modesta (se comparada a inúmeras), que passa por reformas de ampliação nesse momento. A infra-estrutura do lugar, pareceu-me interessante ao ponto de vista da região. Por tratar-se de uma área de “invasão”, há ruas bem traçadas, não asfaltadas; há sistema de esgoto, luz e água.
A mãe da educanda, nesse caso a entrevistada, nos recebeu cordialmente, deixando seus afazeres profissionais (lar e costura) de lado, a fim de colaborar com nossa pesquisa.
Realizamos a pesquisa (a educadora Bernadete e eu) acompanhados pela educanda, a qual foi por nós selecionada à entrevista, além de um educando e uma educanda da 8.ª série.
Essa família, pareceu-me estar bastante consciente com os assuntos polêmicos do dia-a-dia, além, das questões sociais intrínsecas de nossa realidade atual e passada. A escolarização da mãe da educanda, levando-se em consideração sua idade, é bastante alta; segundo a própria, teria estudado até o 1.º ano do Ensino Médio.
Pareceu-me claramente, que existem conceitos sociais e, se posso assim me referir, valores muito arraigados à família. O tipo de “criação” dos filhos segue normas de conduta que levam em consideração aspectos como a Religião Católica (culto, participação), cultura (descendência alemã) e, princípios baseados na concepção da fé Cristã.
A mãe (D. Ana Terezinha), transmitiu-me veracidade e segurança em suas respostas, tendo retraído-se somente, quando questionada sobre a violência e a segurança no bairro. Analisei esse fato como um fato socialmente dispersado em inúmeras comunidades: os chamados Pactos de Silêncio.
Quanto a isso, não posso esclarecer muito a respeito, pois creio que tal fato, deve-se a própria insegurança que os habitantes de determinadas áreas têm, temendo de alguma sorte, determinado prejuízo.
Mas, de qualquer modo, a entrevista foi muito proveitosa e analítica; suas respostas contribuíram muito a minha compreensão de alguns fatores, como por exemplo, a participação na escola e em comunidades de bairro ( o que acontecia por parte da família), assim como, o afastamento da família dessas entidades.
Analisei ainda, o conhecimento geográfico (em seu amplo entendimento) da entrevistada, a qual demonstra percepção ambiental gigante, demonstrando-se preocupada com as questões relacionadas à poluição, manutenção dos recursos hídricos, clima e, sobretudo, sobrevivência humana sobre o planeta.
Observei a questão fonética da entrevistada, que ainda carrega um forte sotaque, motivado pela utilização da língua alemã, todavia, suas expressões e construções de frase são muito bem feitas. Mesmo ainda, carregando elementos fonéticos de sua língua de ascendência, lida muito bem com o Português.
A comunidade onde residem, não dispõe de muitos recursos tecnológicos; a vila está em processo de urbanização já bem adiantado. Perto do domicílio existe um pequeno supermercado, além de alguns bares e armazéns, os quais pude analisar, percorrendo os trajetos de ida e volta à casa e à escola. Quando chegávamos, observei o caminhão do gás que passava por lá, indicando um processo de expansão da localidade, além de que, a moradora informou-nos que a coleta municipal de lixo, passa por lá três vezes na semana.
Além dos afazeres domésticos, a moradora “costura pra fora”, fato esse totalmente perceptível, pois fomos acolhidos em seu ateliê, que por sinal demonstrava seu reconhecimento pela vizinhança, ou então por seu trabalho mesmo, pois as peças amontoavam-se às paredes, ao chão, por cima das mesetas de costuras, etc.
Aprendi, que nem sempre vemos o que vemos. A educanda, a qual fomos a casa, é minha aluna desde a sexta série, e consigo perceber (desde então), que carrega consigo, algumas barreiras de assimilação. Imaginava eu, que a educanda provinha de uma família muito pobre, e que de alguma forma, sofria com desajustes sociais. Todavia, percebo agora, que não é falta de assimilação, a educanda enfrente problemas reais, porém, nota-se que tem uma base familiar boa.
Percebi ainda, que a realidade não é um padrão, nem mesmo um conceito, ela é verdadeira, vejo realmente essa primeira família em uma situação difícil (financeira e socialmente), porém, com traços marcantes de fidelidade e estrutura familiar, além de pactos sentimentais que estabelecem as relações.
2.ª Análise
“ Um novo encontro”
Bom, para iniciar meu relato a respeito do segundo encontro, necessito localizar a família a qual visitamos:
Dirigimo-nos à chamada Rua da Vitória, espacializada em frente às dependências da escola, ao lado oposto da entrada principal da mesma.
A Rua da Vitória conta uma trajetória explicita da 2ª ou 3ª onde de invasões no Bairro Guajuviras, e foi analisada na primeira pesquisa sócioantropológica realizada pelos educadores e educadoras, funcionários, educandos e educandas da escola.
Visitamos a casa de uma de nossas educandas da 8ª série, onde há, juntamente à casa, um estabelecimento comercial de propriedade da mãe da educanda.
A princípio, nossa entrevistada mostrou-se preocupada com o horário, pois fazia-se perto do meio-dia e, indagou-nos se a entrevista demoraria, pois estava preparando o almoço da família.
Após os primeiros acertos, iniciamos nossa conversa. De início, a entrevistada pareceu-me um pouco constrangida com nossa presença, porém, aos poucos, a educadora Bernadete transmitiu-lhe a segurança necessária e, aquela, foi respondendo nossos questionamentos com notável satisfação, tanto, que em determinado ponto da conversa, esqueceu-se do almoço.
É notável a noção de mundo dessa entrevistada,: perpassa por todos os tipos de assunto, demonstrando conhecimento não somente empírico, demonstra conhecimento atual. A pesquisada interagiu fluentemente em nossa proposta, propondo-nos questionamentos.
Sobre os aspectos ambientais, sobretudo, a mãe da educanda tem alto conhecimento da realidade, além de mostrar seu interesse e participação à preservação e conservação de recursos necessários à sobrevivência humana, e aqui, coloco, a sua própria.
Contou-nos sua trajetória desde que veio morar à rua Vitória; explanou sobre as questões de segurança e falta dessa, demonstrando indignação. Além disso, demonstrou sua politização, sem medo de expor suas opiniões políticas, quando referia-se a esse tema.
Percebi uma preocupação – interação, do ponto de vista sócio – econômico – cultural, por parte dessa mãe.
Outrossim, percebi, mais uma vez, a determinação e o sentimento materno afastando todas as barreiras sociais; ademais, nota-se também, a presença do patriarcalismo em algumas de suas concepções, ora, não poderia ser diferente, alguns fatos relatados, levaram-me a entender tal comportamento, como por exemplo, o fato da entrevistada ter orientação religiosa evangélico – batista, baseada na Bíblia Cristã, além é claro, do fato que deixou-nos muito claro, de como foi criada, totalmente assistencializada pelo pai.
Porém, nota-se ao mesmo tempo, contradições a respeito dessa percepção. Creio pessoalmente, que a entrevistada quebrou inúmeros obstáculos da vida, mas ainda mantém pequenos traços culturais, aos quais são extremamente necessários a estruturação de sua família, que, mesmo trazendo esses aspectos, me parece muito centrada nela mesma.
O nível cultural da mãe da educanda é bastante grande, se comparado ao da próxima entrevista. É ela, uma mulher de “garra” e “fibra”, como colocou, porém, sente muito medo da sociedade e dos aspectos negativos que essa possa ter sobre suas filhas, como por exemplo, as drogas (drama social da atualidade e das mentalidades do século XX e XXI).
3.ª análise
“o (re) verso da moeda”
Em nosso último dia de pesquisa, saímos em trio; contamos com a presença do educador Anderson Madeira, que acompanhou-nos em nossa trajetória.
Saímos da escola sem rumo, pois não sabíamos onde o educando selecionado residia, sabíamos sim, que morava na “ “Contel, invasão atrás da escola n.º 11”.
Para nossa surpresa, não encontramos o número e nem mesmo a direção que nos foi dada. Fomos andando, analisando. Para mim, foi uma surpresa, pois nunca havia entrado diretamente dentro da vila. Conhecia o lugar de outros tempos, quando havia ali, uma vasta vegetação, inclusive caminhava por dentro dela, mas sob a égide de uma urbanização recente, em condições ainda em desenvolvimento, fiquei surpreso e lembrando de outros tempos.
Além disso, essas análises remeteram-me à universidade, ao curso de História, de Geografia, às disciplinas de Prática e Psicologia da Educação, Didática.
Gostaria que meus mestres, “atarraxados” em suas cadeiras macias, viessem ali, naquele momento, olhar a Geografia Urbana, Física, Social, Cultural e as analisassem como uma construção da Geografia da Vida, da Realidade.
Gostaria honestamente, que minhas professoras e professores e não educadoras e educadores de Prática de Ensino, pudessem analisar e ver o que vi, para depois então, montarem suas aulas, dentro de um contexto real, que trata da vida cotidiana de nossos educandos e não, as utopias de que “tudo é ótimo e maravilhoso, basta entrar na sala e dar aula”.
Enfim, perguntando a um morador, descobrimos o rumo onde habitava a família determinada. Utilizo aqui o conceito habitar, para conseguir reportar-me de forma não indignada, a paisagem que percorri até chegarmos à casa do educando.
Chegando à casa, avistamos um de nossos educandos, que posso descrever muitos aspectos, mais a impressão que mais ficou, foi a de que ele queria, naquele momento, estar em qualquer lugar do universo, a não ser ali, em sua casa.
O chamamos, ele estava na porta, tomando café em um vidro de maionese Helmanns (daqueles antigos, que não se fabricam mais). Com receio, atendeu-nos ao portão, onde a educadora Bernadete explicou-lhe o motivo de nossa visita; demonstrando nervosismo, mas tentando disfarçar, convidou-nos a entrar.
A impressão que tive nesse momento, conhecendo um pouco da trajetória da família (aquelas história que comentamos nos corredores), imaginei que o educando temia que fosse uma visita formal, para queixarmo-nos dele e, que ele pudera sofrer alguma punição do pai; todavia, não demorou muito para que eu compreendesse que na verdade, o educando, mesmo que de uma forma inconsciente, sentia vergonha de seu lugar, locos. Não posso e nem desejo imaginar o que passou na mente do educando, analisei da seguinte forma e em suas palavras: “meus professores estão aqui”.
Seu irmão, que também é nossos educando, nem sequer saiu de dentro da pequena casa; e sei, por conhecê-lo a alguns anos, que seu pensamento não foi diferente, antes pelo contrário, penso que tenha sido mais intenso.
“Rosane, acho que ainda não estou curado do meu mal de chorar, quando me indigno”.
Bom, a entrevista foi realizada com o pai dos educandos e com sua madrasta. Aquele, nitidamente, mostrou-se uma pessoa de pouca instrução educacional, porém, um homem marcado pela falta de sonhos, de esperanças, marcado pelos obstáculos pesados que a vida lhe impôs. Ela, mostrou-se mais instruída, mais serena quanto às suas respostas, porém, não foram muitas, pois os afazeres lhe chamaram.
Senti-me revoltado em muitos momentos, tentando buscar em minhas teorias, algo que mostrasse e explicasse não somente a cena de onde estávamos, mas a paisagem à volta.
Perto da residência (100 metros), existe um aterro, não sei se de ferro velho ou lixo, ou algo parecido. A rua que dá acesso à casa é uma lomba e termina em um banhado; rua essa, onde a água dos tanques de lavar roupas correm às margens.
Quase entrei em surto, quando o pai relatou que a água que bebem é de um poço, que foi perfurado comunitariamente, entre sua cunhada, o vizinhos dos fundos e ele, e que esse poço tinha 40 metros de profundidade.
(banhado à aterro à esgoto cloacal em forma de sumidouro à terreno permeável pelo banhadoà lençol d’água à cloriformes fecais, gases, produtos químicos etc, etc).
Bom, parte técnica de lado, gostaria de dizer que vi o que sabia que existia e, sei que existe pior.
O pai demonstrou desconforto a princípio, acreditando que a entrevista teria algum cunho que não fosse o sócioantropológico, porém, aos poucos foi respondendo nossos questionamentos, pelo menos, aqueles que sua compreensão permitia.
Sentamos no alicerce de sua futura casa, que faz 02 anos que começou a fazer e ainda está nas pedras, além de nos mostrar sua plantação de batatas-doces e um pequeno buraco, que imaginei eu, fosse um esgota doméstico, porém, para minha tristeza, era um “açude” de 01 (um) metro por (01) metro de comprimento, onde ele, satisfeitíssimo me contou que faz três anos que tem uns “pexi”, não me recordo o nome, mas tem um ( e isso não é sátira, embora hoje tenha vontade rir de mim mesmo), que “tá grandão, faiz quase dois ano que tá í”.
Para minha concepção, foi o absurdo, o cúmulo, o impensado, pois imaginei todas as situações possíveis que aquela cena me representava, em minha mente a pergunta era: o que é aquilo Olorum?
“Aquilo”, era o sonho de meu entrevistado e, por mais que eu não quisesse enxergar, levei três dias para aceitar isso dentro de mim. O sonho de uma criação, de estar ligado a suas raízes, à pesca ou a própria criação mesmo, não sei, não sei, mas a satisfação com que ele falou e mostrou-nos, explicando cuidadosamente, refletiu em minha alma, uma das únicas alegrias visíveis, honestas, um dos sorrisos, se não o único, verdadeiro.
Imagina o que eu pensei: Dengue, lectospirose, poluição, crianças e adultos expostos, enfim, um arcabouço de teorias (sem práxis), que formam as minhas preocupações.
Bom, acho melhor parar por aqui, antes que eu mesmo me confunda.
Aprendi muito com esta entrevista, aprendi que o mundo não é estático, porém, sem a Teoria da Rotação. Aprendi que o sonho não precisa ser gigante, ele pode ter 1m²; aprendi que a necessidade te faz achar formas de sobrevivência, porém sem a Teoria da Evolução.
3. Conclusão
A pesquisa realizada por nossa escola, a qual fiz parte, trouxe-me questionamentos que não serão sanados rapidamente.
Entendo a sociedade, como processos de aceleração e retração de estágios econômicos e humanos, onde os primeiros prevalecem sobre os últimos, pelo menos no modo de produção em que vivemos.
A realidade a qual fui exposto mostrou-me contradições assustadoras e reais da atual sociedade brasileira. De uma família com estrutura familiar forte, com dois filhos a uma família com base cultural estabilizada com cinco filhos até a realidade de uma família que reside em uma pequena casa e abriga oito ou nove pessoas, vivendo em condições precárias, sejam econômicas, sociais, de infra-estrutura, de estrutura e, sobretudo, de relações sentimentais e pessoais.
Creio que a sociedade brasileira, tema de debates em diversas cátedras acadêmicas, passe hoje, por problemas muito mais sérios dos que os que são demonstrados em nossos índices: falta de segurança, acesso a recursos primários, como medicina, saúde, alimentação garantida e emprego entre outros, ademais, as grandes discussões visam um mundo melhor, porém, as estrutura deve ser analisada como um todo, não em pequenas partes.
A realidade social não deve ficar sob diversos papéis, em cima de algumas mesas, ela deve ser mostrada, analisada e deve-se, sobretudo, buscar um entendimento e soluções à esse respeito.
Ora, é impossível acreditar que em um país, onde 78% da população tem uma descendência negra, pelo menos, em sua árvore genealógica, que ainda vivamos o fantasma do preconceito e da discriminação contra o negro, contra sua moral, contra sua dignidade.
As questões de exclusão e marginalização foram destacadas pelos entrevistados de forma peculiar e esclarecedora.
A falta de assistência (e eu não gosto de utilizar essa palavra), por parte dos órgãos competentes é nítida; todavia, não são somente os órgãos governamentais, que empurram essas populações às invasões, não é somente o modo de produção capitalista, que exclui o nosso educando, é também, a mentalidade de um país, rico culturalmente, mas que vive a dominação ideológica exógena, exterior.
É sim, a visão de mundo que se construiu nesse Estado, que eu espero um dia virar Nação ou pelo menos (militarmente) Pátria, que demonstra as raízes escravizadoras da humanidade, o branqueamento das relações sociais, a expulsão daqueles que não mais servem às novas ordens tecnológicas desenvolvidas, por aqueles que durante séculos exploraram seus “irmãos” biológicos.
São necessárias (re) formas à sociedade, a nossa sociedade, a nossa realidade, e essas reformas começam conosco, educadoras e educadores, que tem o papel social, de formarem a sociedade, de trazerem a visão de nossos educandos e educanda, a dura realidade da vida, o jogo dos interesses, a luta pela sobrevivência, visando Viver e não sobreviver.
Com isso,
(Re) aprendi, que existem flores no deserto, rosas do deserto, raríssimas. Flores essas que passam anos em forma de semente, mas que ao mínimo sinal de água, desabrocham em lindos botões, cor de areia, que só conseguem ser vistos por aqueles que conhecem profundamente o deserto, suas tempestades, seus tons e, as diferenciam, na imensidão da das partículas de rocha (areia), reverenciando aos Céus sua aparição.